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O que fazer a curto prazo para controlar as térmitas nos Açores
Estratégias para o combate das térmitas nos Açores Paulo A. V. Borges (Grupo da Biodiversidade dos Açores) As térmitas são organismos sociais com um comportamento complexo e muito bem adaptado ao habitat urbano, e consequentemente muito difíceis de controlar. Infelizmente os Açores passaram a fazer parte do mapa de distribuição de pelo menos duas espécies de térmitas com grande impacto destrutivo, a Cryptotermes brevis (térmita de madeira seca das Índias Ocidentais), e a Reticulitermes grassei (térmita subterrânea Europeia). Estas duas espécies estão a provocar grandes prejuízos nas cidades principais dos Açores (Angra do Heroísmo, Ponta Delgada e Horta) e prevê-se que nas próximas décadas o seu impacto seja ainda maior nessas mesmas ilhas e possam igualmente ocorrer noutras partes do arquipélago. O que foi feito pelas várias entidades? O Governo Regional dos Açores nos últimos anos tentou responder a este problema executando uma série de acções das quais as mais importantes foram: a) criou legislação específica para apoiar a substituição de estruturas e acabamentos em madeira nas habitações das famílias mais carenciadas. Esta iniciativa tem vindo a ser reforçada com o objectivo de apoiar mais famílias. Trata-se assim de uma medida de cariz social mas que não deve ser considerada como uma medida de controlo da praga, já que abarca um número muito limitado e aleatório em termos espaciais de imóveis; b) através do LREC apoiou a formação de técnicos das Câmaras Municipais no processo de diagnóstico e identificação das espécies que afectam o parque habitacional das principais cidades dos Açores. Neste momento temos já equipas das Câmaras Municipais que visitam as habitações e confirmam a presença de térmitas. c) através da Direcção Regional da Ciência e tecnologia apoiou três projectos de investigação e a edição de uma livro da Univ. dos Açores (CITA-A) num valor total de cerca de 140 000 Euros. A Câmara Municipal de Angra do Heroísmo financiou um Projecto de investigação em 2004 realizado pela Universidade dos Açores a partir do qual se passou a conhecer a real dimensão do problema nos Açores. A Universidade dos Açores com a colaboração de investigadores Canadianos, Americanos e do LNEC executou três projectos de investigação cujos principais resultados são neste momento: a) Descoberta de mais duas espécies de térmitas para além da térmita de madeira seca. Assim temos confirmadas três espécies diferentes de térmitas nos Açores. b) Pelo menos 4 ilhas (Terceira, Faial, S. Miguel e S. Maria) possuem populações de térmitas em expansão. c) A Térmita Subterrânea está limitada à ilha do Faial e num estudo preliminar a UA sugere que é possível a sua erradicação com um investimento que poderá rondar os 400 a 500 000 Euros. d) Todos os tipos de Madeira são susceptíveis de serem atacados pela térmita de madeira seca, mas o Pinho Resinoso parece resistir mais tempo. e) Nos períodos de enxameamento pelo menos 25% dos indivíduos de uma colónia saem da madeira e podem ser capturados e eliminados com armadilhas e insecticidas.
f) A utilização do calor do sol ou do congelamento são soluções eficazes para o tratamento de mobiliário. g) Dois pesticidas utilizados pelas empresas locais (Xylophene e Wocosen) passaram vários testes científicos e se bem aplicados podem ser eficazes em infestações baixas e médias. h) A hipótese de utilização de FUMIGAÇÃO nos Açores está neste momento colocada de parte devido a problemas de segurança. i) Foi elaborado um programa de comunicação com o grande público com o lançamento do PORTAL DAS TÈRMITAS DOS AÇORES (sostermitas.angra.uac.pt) Infelizmente, consideramos que as medidas do Governo Regional e das Câmaras Municipais, tal como a investigação científicas são insuficientes pelas seguintes razões: a) a acção de formação efectuada pelo LREC em 2005 foi insuficiente e deve ser alargada a técnicos da Secr. Regional da Habitação, Secr. Regional do Ambiente, Secr. Regional da Agricultura, Técnicos das Alfândegas, Profissionais de Carpintaria, Pintores, Eng. De Construção Civil, etc. b) O financiamento da investigação nesta área foi útil mas é insuficiente para lidar com a dimensão do problema. De facto, é necessário um financiamento continuado de forma a manter um grupo de investigadores a trabalhar no terreno e em intima ligação com as empresas e o Governo Regional. c) apesar dos esforços efectuados pelo Governo Regional, LREC, Câmaras Municipais e Universidade dos Açores, existe ainda um grande desconhecimento por parte dos cidadãos em como lidar com este problema; d) não existem medidas práticas para combater a praga. e) a tecnologia disponível actualmente é insuficiente para resolver o problema. f) não existe uma política adequada para os resíduos sólidos infectados por térmitas. g) não existe uma coordenação entre os vários departamentos do Governo Regional dos Açores para lidar com este problema. Sugestão de medidas a tomar: a) Identificar a extensão da praga no arquipélago, de forma a propor estratégias de controlo a curto, médio e longo prazo à escala do arquipélago. Pode ser executado através de financiamento adequado à UA; A1 – Apesar disso neste momento dois jovens investigadores estão a realizar as suas teses com financiamento da FCT nacional e apoio a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo: Maria Teresa Monteiro da Rocha Bravo Ferreira (2006-2010). estudante de doutoramento em Entomologia pela University of Miami sob a orientação do Prof. R. Scheffrahn e Prof. Paulo A. V. Borges Projecto: “BIOLOGY AND MANAGEMENT OF THE DRY-WOOD TERMITE CRYPTOTERMES BREVIS”. Ref: SFRH/BD/29840/2006 Orlando Guerreiro, estudante de Mestrado da Univ dos Açores em Gestão e Conservação da Natureza orientado Prof. Miguel Tavarela e Prof. Paulo A. V. Borges (Dep. de Ciências Agrárias, UA). Projecto: "CONTRIBUTION TO THE MANAGEMENT OF THE DRYWOOD TERMITE CYPTOTERMES BREVIS IN THE AZOREAN ARCHIPELAGO”
b) Conhecer os padrões de invasão da térmita subterrânea Reticulitermes grassei na ilha do Faial e durante um ano avaliar a possibilidade técnica da sua erradicação. Pode ser executado através de financiamento adequado ao LNEC e UA; c) Avaliar a eficácia da técnicas de TEMPERATURA no extermínio das térmitas nos Açores C1. Para o caso da técnica da TEMPERATURA já está em movimento uma colaboração entre a Secretaria Regional do Ambiente e a UA para a realização de um Workshop nos Açores com a presença de especialistas de uma empresa da Califórnia e de uma empresa da Alemanha. d) Designar áreas nos Aterros Municipais para destruição de madeiras infestadas – tendo em consideração o facto de termos actualmente três espécies de térmitas nos Açores é fundamental que qualquer madeira infestada que seja substituída numa habitação tenha como destino um espaço adequado nos Aterros Municipais onde possa ser destruída. No caso das térmitas de madeira viva e subterrânea a incineração é a única solução possível. No caso de madeira infestada por térmitas de madeira seca, deve-se enterrar a madeira. e) Controlar os adultos das térmitas de madeira seca na altura dos enxames entre Maio e Agosto de cada ano. De facto os estudos da UA demonstraram que 25% da população num determinado momento é composta por adultos reprodutores que podem assim ser eliminados. Sugerimos um programa agressivo de controlo dos adultos com distribuição de armadilhas de baixo custo com cola com lâmpadas (pode ser executado através de um protocolo entre o Governo Regional, Câmaras Municipais e UA). f) Criação de legislação agressiva para lidar com a transacção comercial de imóveis com térmitas. Na minha opinião, qualquer edifício que seja transaccionado nos Açores deve ser sujeito a uma avaliação por técnicos das Câmaras Municipais. Se forem detectados sinais de térmitas estas devem ser erradicadas antes do imóvel passar de proprietário. Deste modo não só se está a controlar a praga como se estão a proteger os direitos do consumidor. Há assim que prestar formação a diversos técnicos do sector público e privado, no âmbito da peritagem, da fiscalização e da implementação de nova tecnologia de extermínio. g) Fomentar a industria das madeiras pré-tratadas em autoclave com apoios às empresas que queiram investir nesta área no arquipélago; h) Investimento na informação – o controle nível regional e local na dispersão das térmitas só pode ser contido se as pessoas compreenderem o risco associado ao transporte de mobiliário e madeiras em geral. Há que gerar materiais educativos que possam ter uma divulgação ampla.
H1 – Neste momento a Univ. dos Açores está desenvolver o projecto ÁFRICA ANNES - Incorporação da percepção social na comunicação de risco ambiental, financiados pela Fundação da Ciência e Tecnologia (FCT - PTDC/CCI/72381/2006) que pretende intervir nesta área.
Consideramos importante e urgente a criação de uma equipa de trabalho num departamento do governo regional (Agricultura, Ambiente ou Habitação) para lidar com esta praga a médio e longo prazo. Paulo A. V. Borges 4 de Abril de 2009
Publicado a, 04 de Abril de 2009. Fonte: Reflexão com base na discussão realizada em programa da RDP (Jornalista: Armando Mendes)